quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Mais de 200 mil obras fazem a Memória de África

A biblioteca virtual do projecto Memória de África já conta com perto de 200 mil títulos considerados património comum de Portugal e dos países africanos lusófonos, e prepara-se para aportar ao Brasil.




Entre os últimos acrescentos ao espólio está a Colecção de Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia de Moçambique (1929), de José dos Santos Rufino, ou o acervo do Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe, onde se encontram, por exemplo, as fichas de identificação dos antigos colonos quando estes chegavam à colónia e outro tipo de documentação a partir da qual é possível traçar o percurso cronológico individual de um colono ou trabalhador desde a sua entrada na colónia até ao seu repatriamento.

Entre os documentos há mais tempo "resgatados", na maioria de colecções particulares, é possível encontrar algumas curiosidades como o "O Meu Primeiro Livro de Leitura", publicado na então Guiné Portuguesa, de meados do século XX, ou a Didáctica das Lições do Primeiro Ano do Ensino Primário Rural, da colónia de Angola.

"As pessoas percebem que a digitalização e disponibilização livre é um modo de homenagear e perpetuar o legado de muitos técnicos e quadros do Estado que escreveram livros e relatórios sobre muitos aspectos desses países e que se não forem tratados deste modo se perdem para sempre ou são apenas úteis a meia dúzia de pessoas que os conhecem", afirmou à Lusa Carlos Sagreman, professor da Universidade de Aveiro, um dos responsáveis do projecto.

Um mês que vale um ano

Além disso, adianta, "nestes últimos tempos acolhemos múltiplos contactos de pessoas que gostariam de encontrar as obras que pais e avós escreveram quando estiveram nos hoje chamados PALOP e que estão referenciadas na base de registos".

Onze anos depois do lançamento (Outubro de 1996), o "site" - http://memoria-africa.ua.pt - "faz num mês o que fazia num ano de páginas vistas e visitantes", referiu. "Todos os meses se acrescentam registos e páginas digitalizadas", disse Sangreman, responsável do projecto financiado pela Fundação Portugal África, e em que participam o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) de Lisboa, além da Universidade de Aveiro, onde está o servidor que aloja a documentação digitalizada.






Brasileiros são um terço

Numa altura em que mais de um terço dos visitantes da biblioteca virtual são brasileiros, quase tantos como os portugueses, os responsáveis assumem o objectivo de criar um "módulo Brasil", mas ainda não apareceu o parceiro com o perfil pretendido. A curto prazo, pretendem ainda acabar de digitalizar o acervo do Banco Nacional Ultramarino e a obra completa do poeta e cientista de Cabo Verde João Varela, digitalizar o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa e a revista Soronda (em conjunto com a Fundação Mário Soares) e do Instituto Nacional de Estatística em Portugal. De acordo com Carlos Sangreman, está ainda previsto iniciar a recolha em acervos da Universidade de Évora, na Assembleia da República e de mais um dos Departamentos da Universidade de Coimbra, além de continuar a recolha de acervos particulares neste momento em Óbidos e Caldas da Rainha. Outro objectivo é recolher registos em Angola, o único país africano lusófono onde "em dez anos não foi possível" aceder a uma única obra, afirma o mesmo responsável.

Goa espera fundos

À espera de fundos está a recolha de acervos em Goa, numa altura em que o planeamento com contactos locais já está feito, e que até já levou o projecto a acrescentar ao nome Memória de África "e do Oriente”, de forma "não oficial", adianta. Na mesma situação está a iniciativa de recolher registos e digitalizar na Biblioteca Nacional de Moçambique, onde estava o Depósito Legal no tempo colonial, depois de já ter sido "passado a pente fino" o Arquivo Histórico da ex-colónia. Mas o grande desafio, assume, é passar a biblioteca de "virtual" a "digital" - tornar os conteúdos digitalizados integralmente disponíveis e pesquisáveis.

Por: Olinda Gil
Fonte:
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=23861&op=all

3 comentários:

  1. Obrigada Olinda pela tua colaboração.
    Quem, melhor do que uma professora de História, natural de África, para nos falar desse Continente?

    Contamos contigo para sabermos mais.
    Um grande abraço, Amiga!

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  2. Nasci em Portugal mas fui para Moçambique com cinco anos, a minha infância foi agradavelmente africana e foi lá que despertei para a arte e para as primeiras sensações.
    Vim com onze anos e por isso recordo bem os cheiros, as cores e os sabores...

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  3. Obrigada Olinda por partilhares connosco as tuas vivências em África!
    Aprecio a tua escrita mas mais ainda a tua arte.
    Brevemente divulgaremos alguns dos teus maravilhosos quadros.
    Bem-vinda ao "Nós com África"
    Beijos "Coração de Leoa":)

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